A Síndrome da Fadiga Crônica é uma condição relativamente comum de quem sofre de cansaço persistente, no entanto, não é a única causa de fadiga.
São três sintomas principais na Síndrome da Fadiga Crônica:
- Um cansaço persistente com pelo menos 6 meses de duração com redução significativa na sua capacidade de realizar as suas atividades funcionais (ex: ocupacionais, educativas, sociais ou pessoais) em comparação à níveis anteriores do inicio do quadro e que não resulta de esforço contínuo e excessivo e também não melhora com o descanso.
- Mal-estar ou intolerância após esforço físico ou mental
- Sono não reparador
E pelos menos um dos seguintes sintomas:
- Queixas cognitivas
- Intolerância ortostática (sensação de tontura ou vertigem quando a pessoa se levanta e melhora quando a pessoa se deita).
Em 85% dos casos a Síndrome da Fadiga Crônica é precedida por um gatilho que ocorreu há horas ou dias anteriores ao início do quadro tais como:
- Infecção bacteriana, viral (ex: Epstein- Barr) ou parasitárias ex: Giárdia) são as mais comuns (72%).
- Trauma (4.5%)
- Cirurgia ou gravidez (4.5%)
- Reações alérgicas (2.2%)
- Stress, trauma emocional (1.7%)
A síndrome da fadiga crônica não é uma doença de ordem somente psicológica, existem alterações biológicas, principalmente neurológicas como neuroinflamação e disfunções do sistema nervoso autonômico e também do sistema imunes como alteração da função das células natural Killers e aumento de citocinas inflamatórias.
O diagnóstico médico se faz através da história clínica e principalmente descartando a possibilidade de outras doenças que tenha como sintoma fadiga ou outro sintomas que podem simular fadiga como a fraqueza, estas são descartadas através do exame físico e se necessário através de exames complementares. Um exemplo: uma pessoa com muita fadiga mas apresenta no exame físico neurológico alteração da sensibilidade nas pernas, neste caso, deve ser descartado uma outra doença neurológica chamada de Esclerose Múltipla que também causa cansaço e também pode ser precedido de uma infecção viral; neste caso, uma ressonância magnética para confirmar a doença é necessário. Outro exemplo uma pessoa no exame neurológico apresentando dificuldade para levantar da cadeira ou levantar os braços, neste caso, ele tem fraqueza e não cansaço, neste caso deve ser solicitado um exame de eletroneuromiografia para descartar uma doença da junção neuromuscular chamado Miastenia Graves. Note que a solicitação de exames complementares são direcionados para descartar outras doenças que causam fadiga, evidenciado no exame físico.
Para compreender como tratar a Síndrome da Fadiga Crônica vamos imaginar um animal (ex: cavalo ou burro) que leva uma carroça, a principio ele consegue levar a carga com facilidade mas a medida que se coloca cada vez mais peso dentro da carroça, a peso vai diminuindo a capacidade do animal se movimentar, até o ponto que o animal não conseguirá carregar a carroça, o mesmo ocorre com o ser humano, em relação ao Síndrome da Fadiga Crônica, desequilíbrios alteram o funcionamento do organismo, ou seja, um terreno biológico propício para a Síndrome da Fadiga Crônica.
Seis aspectos importantes que devem ser direcionados na Síndrome da Fadiga Crônica:
- Adequação nutrológica alimentar – Muitas vezes consumimos alimentos que não são compatíveis com nosso sistema imune e isto pode gerar problemas, a mais famosa intolerância é o glúten mas existem outras intolerâncias que devem ser verificadas, outros, podem não ter nenhum sensibilidade alimentar mas ter um diabetes ou pré -diabetes e neste caso também pode ser prejudicial na recuperação do paciente com Síndrome da Fadiga Crônica.
- Adequação de vitaminas – Algumas vitaminas fazem parte da cadeia bioquímica fundamental para formação de ATP como a fosforilação oxidativa , processo bioquímico que ocorre na mitocôndrias durante a respiração celular. Diagnosticar deficiências destas vitaminas e minerais são fundamentais para a recuperação da Síndrome da Fadiga Crônica.
- Equilíbrio hormonal: Alguns hormônios diminuem com a idade tanto no homem como na mulher e são causas de cansaço, como exemplo o próprio hormônio de crescimento pode ser deficiente no adulto, ou a testosterona na andropausa no homem e o estrogênio na menopausa na mulher.
- Intoxicação de metais tóxicos e organofosforados: Quando o organismo fica sobrecarregado de toxinas ele não consegue produzir ATP (Energia) de maneira eficiente então é necessário descobrir a possibilidade de contaminação excessiva deste tóxicos ambientais no nosso organismo.
- Equilíbrio da flora bacteriana intestinal: Hábitos alimentares não saudáveis, excesso de uso medicações alopáticas como antibióticos alteram o equilíbrio da nossa flora bacteriana intestinal, ou seja, bactérias inflamatórias podem estar predominando em relação às nossas bactérias anti-inflamatórias que são associadas à nossa saúde intestinal alterando nosso sistema imune. É importante diagnosticar esta a possibilidade deste desequilíbrio do nosso microbiana intestinal.
- Controle do stress: Situações de esgotamento psicológico, emocional e muitas vezes físico, decorrente de uma série de pressões que ocorrem no indivíduo podem levar a um estado de fadiga. Um exemplo é o esgotamento profissional conhecido como Síndrome de Burnout que é a exaustão extremo resultante do excesso de trabalho, no entanto existem outros tipos de esgotamento como cuidar do filhos , ou mesmo, cuidar de pais idosos, enfim, qualquer situação aonde se tem excesso de esforço levando ao esgotamento, sem em contrapartida ter os pequenos prazeres da vida, isto gera um sentimento de perda do sentido da vida.
Autor: Dr Rafael Higashi (Crm: 74345-3), mestre em medicina, neurologista (RQE: 13728) e nutrólogo (RQE 19627) e diretor da Clínica Higashi Rio de Janeiro.