Matéria da Folha de Londrina dia 21/06/2010 por Chiara Papali (jornalista)

 

Quer viver mais? Coma menos. É simples assim. O conceito, fruto de dezenas de pesquisas, já foi incorporado às terapias antienvelhecimento, mas na forma de extratos naturais que simulam os efeitos da restrição calórica no organismo. O próximo passo da indústria, agora, é chegar a uma pílula, para que as pessoas tenham os benefícios da restrição, sem deixar de comer.

 

O médico ortomolecular Tsutomu Higashi, de Londrina, afirma que o conceito não é novo – ''há 2 mil anos a medicina chinesa já falava disso, para não comer até o estômago ficar cheio''. Hoje, pesquisas mostram o que acontece, de fato, no corpo diminuindo a ingestão de comida.

 

Um dos estudos, cita ele, feito na Universidade de Wisconsin (EUA), mostra o efeito em macacos depois de dez anos de restrição alimentar. Em um dos grupos da pesquisa, encerrada em 2009, a alimentação foi reduzida em 40%, e, no outro, foi livre. Nos dois, não houve preocupação com qualidade. ''Naqueles que não tiveram restrição, todos ficaram diabéticos, apresentaram algum tipo de doença degenerativa severa e 50% morreu. No grupo que teve a restrição, não houve nenhum caso de diabetes, 30% apresentou doenças degenerativas e 20% morreu'', aponta Higashi. ''A conclusão é que comendo pouco, a longevidade é maior, e dá para extrapolar isso para os humanos'', afirma o endocrinologista Leonardo Higashi.

 

Outra linha de pesquisa, contam os médicos, descobriu um gene e uma enzima do organismo ativados pela restrição calórica. ''A restrição mobiliza o gene Sirt 1 e uma enzima chamada acetilase, que atua no ciclo da célula, fazendo com que não haja muita apoptose, morte celular. Além disso, equilibra o sistema imunológico, o metabolismo de insulina e açúcar e a parte inflamatória'', explica Higashi. Toda essa mudança causada pela restrição foi chamada de hormesis.

 

Mas, mesmo com benefícios, quem quer reduzir em 40% a alimentação? Foi com a premissa de que as pessoas não estão interessadas em diminuir a quantidade de alimentos que o pesquisador americano David Sinclair foi atrás de moléculas que bioquimicamente poderiam ter o mesmo efeito. E descobriu. Segundos os Higashi, 15 moléculas mimetizadoras da restrição calórica, todas provenientes de plantas, já foram descritas. As mais comuns são o resveratrol, presente na uva, o extrato de chá preto, o mirtilo ou blueberry e a quercetina, presente na maçã.

 

Todos esses extratos – afinal, não adianta comer quilos e quilos de maçã – já são usados na medicina ortomolecular. Mas é preciso lembrar que não há milagres: ''nada tem mais benefício que uma alimentação saudável aliada à atividade física'', diz Leonardo. E, mesmo com a indústria investindo para criar uma pílula que ofereça os mesmos benefícios da restrição calórica, sempre resta a opção – por que não? – de comer menos.

 

Produzido por:

Dr. Leonardo Higashi

Médico ortomolecular, endocrinologista e nutrólogo

 

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