As reclamações frequentes são: “A vida está cada vez mais complicada”; “O mundo está cada vez mais confuso ” ; “Hoje não existe mais previsibilidade de nada”, infelizmente, poucas pessoas compreendem que esta confusão cognitiva associada a um sentimento de medo e insegurança, é causada pela falta de entendimento de princípios em nosso processo cognitivo.
De acordo com Harry Binswanger, “Princípio é uma generalização fundamental que serve como padrão de julgamento em determinado domínio”, portanto principio é uma abstração, ou seja, um pensamento abstrato, que subordina um número maior de concretos. Eles servem como um mapa cognitivo do mundo. De acordo com Ayn Rand, “Um principio é uma verdade fundamental, primária ou geral da qual outras verdades dependem”.
Fundamentalidade se refere a algo que tem um certo tipo de ordem hierárquica, ou seja, uma sequência causal com suas derivadas ou ramificações, como por exemplo: o tronco de uma árvore exemplificaria o fundamental de uma estrutura vegetal, já o térreo de um prédio não seria o fundamental, apesar de necessário , pois não tem a complexidade de derivadas necessárias para ser considerada como uma fundamentalidade. Fundamental é um fator causal a qual em multinível e ramificações causais dependem. Em dado domínio é o fator fundamental que integra e explica a existência e a interrelação de todos os itens dentro do domínio , ou seja, a todos os itens dentro do domínio , em qualquer nível são subordinados ao fundamental, eles são consequências.

Representação da relação do fundamental e suas derivadas. (How We Know. 2014. Harry Binswanger)
A verdade é o reconhecimento da consciência humana da realidade, ou seja, o que existe, o que não existe não é real. Fundamental é o fator explicativo e causal de itens de um dado domínio, ou seja, quando muitos fenômenos concretos podem ser identificados por uma mesma causa pregressa, podemos então, afirmar que princípios são uma forma de conhecimento humano para compreensão do fundamental dos fatos da realidade.
Podemos exemplificar três princípios : Na física, “ Corpos massivos na natureza atraem uns aos outros.” Isaac Newton (1643 – 1727). Na filosofia, “Conhecimento e poder humano são sinônimos “. Francis Bacon (1561 – 1626). Na economia política, “O declínio da liberdade de um país é o declínio de sua prosperidade” Ayn Rand ( 1905- 1982). Observe que toda estrutura de um principio é uma proposição pois é formado pela combinação de dois ou mais conceitos cada um identificado por uma palavra, denotando um único pensamento conceitual. Deve-se diferenciar uma sentença que é uma série de palavras, já a proposição é o pensamento por de traz das palavras. As palavras na proposição são nossa identificação mental dos conceitos que são aspectos da realidade em relação ao homem, ou seja, conceitos designam fatos, perceber objetos com suas similaridades e diferenças, condensado pela consciência humana, de acordo com método racional (lógico) , de acordo com Ayn Rand, conceito é uma condensação de informações formado por um processo volitivo de acordo com o método de cognição humano através de processo ativo de duas essenciais: diferenciação e integração, ela define: “O conceito é uma integração mental de duas ou mais unidades isoladas de acordo com uma ou mais características específicas e unidas por uma definição especifica”. A função dos conceitos é estender do que o homem consegue manter o foco e reduzir a uma quantidade grande de informações em um número mínimo de unidades, expandindo o alcance da consciência humana além do perceptual”.

Formação dos conceitos na epistemologia objetivista (How We Know. 2014. Harry Binswanger).
Na sua estrutura mais básica, o principio é uma proposição que tem na sua natureza um julgamento. É uma forma de identificação conceitual, uma combinação de dois ou mais conceitos em um único pensamento, ou seja, é o conteúdo cognitivo de uma sentença, que é diferente da seu forma linguística. É uma forma de julgamento de uma abstração como uma afirmação, negação e consideração. É a aplicação de um conceito para um fato observado. A observação percentual é a forma base de descobrir o que as coisas são, sua identidade, a proposição aplica um conceito do sujeito conhecido direta ou indiretamente pela percepção. Aplicando conceitos a proposição identifica que tipo de fato se observa, baseado na sua similaridade com outras coisas conhecidas, permitindo uma conexão da observação com toda a rede de conhecimento individual. Toda proposição aplica conceito para o sujeito. Conceitos são ferramentas para organizar informações, não identificação. Proposição são identificações. Conceitos condensam e armazenam as informações descobertas. Proposição faz uso dos conceitos formulando uma identificação explícita. Conceito é um equipamento cognitivo, um meio e não um fim. Proposição são os fins de uma relação que os conceitos sãos os meios. Conceitos são os elementos do pensamento que formam a proposição, ou seja, nosso pensamento. Proposição é uma combinação organizada de conceitos é a aplicação de uma informação armazenada em uma nova unidade, ou seja, um ato de identificação conceitual. A proposição declara só o que declara e sua natureza é explicitar. O propósito final de toda proposição é guiar a ação do homem no mundo, é um meio de guiar ações particulares em concretos particulares. O significado da proposição é limitado ao fato do que ele declara (ex: o sujeito possui certas características). A função da proposição é semelhante a de uma equação matemática, ela aplica abstração conceitual para um problema específico. A proposição é em relação ao sujeito e não ao predicado. O predicado é o meio para identificar um termo conceitual a qual o sujeito é, um fluxo de informação do predicado para o sujeito. A proposição é um meio de levar a mente e aplicar conhecimento ao sujeito armazenando no conceito. A direção primária da informação flui do predicado ao sujeito. O predicado ilumina o sujeito trazendo conhecimento armazenado para lidar com ela. Proposições são aplicadores de conhecimento para a vida, é a aplicação do conhecimento já retida no conceito.

Princípios como pontes cognitivas (How We Know. 2014. Harry Binswanger).
Na biologia o princípio da seleção natural descoberto por “Charles Darwin” diz que o organismo mais apto sobrevive e passa suas características aos descendentes, garantindo, portanto, características vantajosas aos seus descendentes. Note-se que a seleção natural é fundamental dentro da biologia em relação à evolução dos organismos. Na física, o princípio da lei da gravidade proposto por “Isaac Newton” diz que dois corpos massivos na natureza atraem uns aos outros, explica o fundamental da relação de força entre as matérias, sem o estudo deste princípio seria impossível a tecnologia de aeronaves, satélites e etc. Fica claro, portanto, no escopo das ciências especiais como na biologia, física, medicina , entre outras, a importância dos princípios como guia da compressão da realidade. Seria temeroso pensar em um engenheiro aeroespacial que não utiliza princípios da física para construir aeronaves ou um médico cirurgião que não utiliza princípios cirúrgicos para realizar uma cirurgia, mas no que se refere a princípios filosóficos a qual todos seres humanos necessariamente precisa para formação do pensamento para a sua tomada de decisão, a maioria ignora e nem sabe que isso existe. Entre as perguntas fundamentais da filosofia que são quatro: O que é a realidade (metafísica), como eu adquiro conhecimento (epistemologia), o que é certo ou errado (ética) e qual o melhor sistema para se convier em sociedade (politica). A metafísica e a epistemologia assim com as ciências especiais são tópicos factuais, pois descrevem o universo e o homem, já a ética não só descreve como prescreve, os valores morais são fundamentais porque moldam o caráter e o curso da vida.
Para explicar melhor a importância de princípio filosófico vamos escolher como exemplo a questão ética. Durante toda escolha humana depara-se com uma pergunta fundamental , quem será o beneficiário de sua decisão você mesmo (egoísmo ) ou outro (altruísmo), apesar da resposta ser binária (egoísmo x altruísmo) na prática, como o indivíduo , necessidade fazer inúmeras decisões durante toda a sua vida, ele pode ainda alternar suas decisões entre auto-interesse (egoísmo) e ausência de interesse próprio (altruísmo) , no entanto, o resultado emocional de felicidade x sofrimento pode alterar drasticamente dependendo de sua consistência e de qual sentido do beneficiário ético ele escolhe. Vale a pena mencionar que quando somos os beneficiários da nossa própria ação, pode significar também que o outro feliz me faz feliz, ex: Minha filha feliz, deixa-me feliz, diferente de alguém feliz, que você não admira como pessoa. Nos tempos atuais, no entanto, a maioria, não tem definição desta questão ética, por isso, não tem consistência, é o resultado da influência de uma filosofia pragmática, a qual princípios são teorias com nenhuma aplicabilidade prática, o que torna a decisão a mercê do sentimento do momento. Podemos aqui então aproveitar a acrescentar um principio metafísico humano filosófico.” Felicidade é um estado de alegria não contraditória – uma alegria sem castigo nem culpa, que não entra em conflito com nenhum de seus valores e não contribui para sua própria destruição… A felicidade só pode ser atingida por um homem racional, o que não deseja objetivos que não sejam racionais, que não busca nada que senão valores racionais, que só encontra prazer e alegria em atos racionais.” Ayn Rand – Discurso de Galt. Será que o princípio filosófico atual pós-moderno e ou religioso está nos levando a felicidade?
Para esclarecer ainda mais sobre princípios filosóficos vamos para a política. Em cada decisão que um político pode fazer tem dois caminhos diferentes e binários para o individuo, quais são: Mais liberdade ou menos liberdade. Qual seria o resultado de um sistema político aonde estado existisse somente para garantir a liberdade de cada indivíduo buscar sua própria felicidade ( ex: EUA no inicio da sua fundação) ? ou ao contrário. Qual seria o resultado de um Estado que controla a vida e o destino do indivíduo, que suprime sua liberdade de escolha (Como foi o caso da Rússia comunista ou da Alemanha nazista), entre as duas versam: liberdade x controle, e qual seria a melhor opção para se viver? Apesar da decisão mais liberdade x controle ser binária, na prática o Estado pode tomar inúmeras decisões durante a sua existência, decisões sem consistência que diminuem ou aumentam a liberdade. Hoje, no entanto, a maioria dos países, inclusive no Brasil, não existe uma definição filosófica em relação a liberdade do individuo, decisões são tomadas de acordo com o momento, quando tem muito desemprego o Estado busca afrouxar leis burocráticas contra o empreendedor diminuindo a carga tributária, mas quando não existe um clamor social por emprego, volta a gastar mais do que tem, aumentando ainda mais a carga tributária sob o empreendedor diminuindo sua liberdade de gastar seu dinheiro aonde lhe convém. No entanto, a prosperidade de um país pode ser medida de acordo com seu índice de liberdade individual, mais liberdade mais prosperidade, menos liberdade menos prosperidade. Será que é possível compreender através de um princípio , o fundamental , da falta de prosperidade de em país?
O homem para manter e sustentar a sua vida precisa conceitualizar os requerimentos para a sua sobrevivência humana, ele tem que confrontar com algumas possibilidades de escolha e ação, dentro de possibilidades complexas, por isso, ele precisa estabelecer o mecanismo cognitivo humano de economia unitária, através da escolha do que é fundamental, ele deve focar em formar uma abstração que integra todas as outras em relação ao aspecto da alto preservação, em outras palavras qual generalização identifica e condensa, de um forma retida, os diferentes tipo de escolhas que afetam a vida do homem, ou seja, quais os princípios permitem o homem a fazer escolhas, planejar e ter visão no longo alcance para se viver melhor.
Autor: Rafael Higashi, médico (52.74345-3) mestre em medicina, neurologista (RQE: 13728) e nutrólogo (RQE:19627) da Clínica Higashi.
Referências bibliográficas:
- Objetivismo: Introdução à Epistemologia e Teoria dos Conceitos (1966). Ayn Rand
- Objectivism: The Philosophy of Ayn Rand (1991). Leonard Peikoff
- How We Know. Epistemology on an Objectivist Foundation (2014). Harry Binswanger.