NEUROFEEDBACK e BIOFEEDBACK
Neurofeedback e Biofeedback no controle dos transtornos neuropsiquiátricos
O termo “neurofeedback” é o equivalente ao “biofeedback” com eletroencefalograma (EEG), que é uma modalidade de treinamento de auto aprendizagem, a qual sensores são colocados em partes do corpo do paciente, tais como: pele (temperatura), pulso (batimento cardíaco), muscular (contração) e cabeça (atividade elétrica cortical), com isso os sensores captam os sinais emitidos pelo corpo e a partir destas informações o paciente aprende através de um software associado a um computador a regulá-lo, sendo um treinamento psicoeducativo que contribui para o auto-aprendizado psicofisiológico. Não se trata de um tratamento médico, mas de um treinamento comportamental, através de um processo de aprendizagem auto-regulatório.
O Neurofeedback possibilita mensurar as ondas cerebrais (alfa, beta, gama, teta) e o Potencial Evocado (que inclui os Potenciais Corticais Lentos – SCP, que são classificadas como um tipo de pré-sinapses, ou pré disparos neuronais, que ocorrem através dos mecanismos neurais e podem durar o tempo de centenas de milissegundos a vários segundos).
Vídeo de como acontece o treinamento com neurofeeback (Neurocare group – German):
Há quase um século, Ivan Pavlov lançou as bases do condicionamento clássico. Não muito depois desta primeira descrição do condicionamento clássico e da primeira descrição do EEG humano por Hans Berger em 1929, observações iniciais foram feitas de que o EEG humano poderia ser classicamente condicionado. Com estes princípios de condicionamento, os sujeitos poderiam aprender a ter um “controle voluntário” sobre sua resposta psicofisiológica a um estímulo dado, mensurado pelo EEG. O que de forma mais básica, essas podem ser consideradas as primeiras demonstrações de controle voluntário sobre o EEG. Alguns anos após esses estudos iniciais do EEG, os primeiros relatos empregando princípios de aprendizado para EEG foram relatados em 1966 por Mc Adam e sua equipe, em estudos sobre o controle voluntário da variação de contingente negativo (CNV) sobre o SCP e em 1969 por Kamiya, em estudos sobre o controle voluntário de frequências de ondas Alfa; e também em 1968 em estudos sobre o condicionamento operante do chamado ritmo sensório motor (SMR) por Wyrwicka e Sterman.
Em torno dos anos 2000, houve um investimento em novas técnicas de Neuromodulação, incluindo o Neurofeedback. Sendo assim, observa-se o aumento no número de estudos, pesquisas e publicações, bem como o surgimento de novas tecnologias, impulsionando especialmente a modernização dos equipamentos, softwares e avanços no campo das neurociências. Ocorre a partir de então uma evolução dos aparelhos tradicionais de EEG e softwares, o que possibilitou mensurar e observar detalhes da coleta e análise das ondas cerebrais. Os SCP´s são presentes em leituras de EEG e Softwares mais modernos, que captam os potenciais evocados, incluindo os SCP´s.
Estudos descrevem que as atividades elétricas corticais denominadas de Potenciais Corticais Lentos (SCPs) refletem o nível de excitabilidade cortical, constituindo funcionalmente um mecanismo de regulação de limiar para mobilização excitatória local (potenciais lentos negativos) ou inibição (potenciais lentos positivos) de redes corticais. Com isso, oscilações da atividade elétrica cortical modelam processos sensoriais, motores e cognitivos. Nesse sentido, trabalhos sobre a variação de excitabilidade cortical sugerem que o treinamento com SCP neurofeedback pode ser capaz de induzir a neuroplasticidade, modulando a atividade elétrica cortical, sobretudo nas oscilações sutis, mensuradas nas frequências de ondas lentas e baixas. Assim, contribuem para os estudos acerca dos efeitos do Neurofeedback de SCP enquanto uma ferramenta de tratamento inovadora, emergindo da teoria neurofisiológica para aplicação clínica.
Treinamento com neurofeedback (equipamento Alemão com certificação européia – NeuroConn Thera prax mobile)
Na ocorrência dos potenciais negativos, observa-se a despolarização de neurônios, facilitando o processamento de informações e funções cognitivas importantes. Os potenciais positivos indicam a redução da atividade cortical das estruturas neurais.
Segundo BIRBAUMER, os seres humanos podem aprender a regular voluntariamente esses potenciais após o treinamento operante, utilizando feedback imediato e reforço positivo para mudanças de potenciais lentos autogerados. Após a autorregulação dos potenciais corticais lentos negativos, estudos comprovaram melhora no desempenho motor e cognitivo de várias tarefas. A auto regulação de potenciais corticais lentos ocorre através dos recursos atencionais.
O Neurofeedback de forma geral tem o objetivo de melhorar a autorregulação comportamental, de forma que a aprendizagem de auto regulação (ou ajustes de emoções e comportamentos) apreendidos são transferidas para situações da vida cotidiana, tais como: ler, estudar, dirigir, meditar e/ou desenvolver um trabalho. Além disso, SCP contribui para o aprimoramento de habilidades motoras, cognitivas e comportamentais, assim como contribui para o desenvolvimento de alterações funcionais em circuitos neuronais que servem como preparação cognitiva.
Existem vários tipos de protocolos sendo desenvolvidos a nível clínico e de pesquisa, entre eles, destacam se os protocolos internacionais. Os protocolos podem variar de dez (10) a trinta (30) sessões. Cada sessão de Neurofeedback tem em média duração de 60 minutos, numa frequência semanal, de uma a três sessões.
Os protocolos de Neurofeedback originalmente foram desenvolvidos para o tratamento de patologias neuropsiquiátricas, tais como: esquizofrenia, epilepsia, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade e problemas de sono. Entretanto é importante destacar alguns estudos que também são dedicados para pessoas saudáveis, ou seja, indivíduos sem diagnósticos clínicos em busca de melhora de performance. Nesses casos, o treinamento com o Neurofeedback tem o objetivo de melhoria de funções cognitivas (atenção, raciocínio, memória entre outros) e não apenas para tratamento alternativo de transtornos neuropsiquiátricos.
Quando a mente, o corpo e as emoções entram num estado de harmonia, há uma comunicação saudável do nosso coração com o cérebro. Essa harmonia se dá de forma consciente, por meio de técnicas de biofeedback, e também pela concentração mental e desenvolvimento consciente de emoções positivas. Assim, os exercícios de biofeedback monitorados por computador conduzido por um profissional habilitado ajudam na regulação emocional, com repercussões positivas na pressão sanguínea arterial e no sistema hormonal, sistema nervoso autonômico e sistema imunológico.
REFERÊNCIAS:
- BIRBAUMER, NIELS. Slow Cortical Potentials: Plasticity, Operant Control, and Behavioral Effect. Neuro Scientist 5: 74-78, 1999.
- FREGNI, F.; BOGGIO, P. S; BRUNONI, A. R. Neuromodulação Terapeutica –Princípios e Avanços da Estimulação Cerebral Não invasiva em Neurologia, Reabilitação, Psiquiatria e Neuropsicologia. São Paulo: Servier 1a ed, 2012.
- GOMES, J. S.; SIMONETTI, L.; MAIDEL, S. Funções executivas e regulação cognitivo-emocional: conexões anatômicas e funcionais. Revista de Ciências Humanas, v. 52, p. 1-11, 2018.
- KAMIYA, J. Operant control of the EEG alpha rhythm and some of its reported effects on consciousness. Altered states of consciousness. New York: Wiley, 1969.
- MC ADAM, D.W. Slow potential changes recorded from human brainduring learning of a temporal interval. London, Psychon, Csi: 435-436, 196
- PAVLOV, I. P. Conditioned reflexes: an investigation of the physiological activity of the cerebral cortex. Trad. G. V. Anrep. Londres: Oxford University Press, 1927.
- STREHL, U. Slow cortical potentials neurofeedback. J Neurother. 13:117–126, 2009.
- STREHL, U.; BIRKLE, S.M.; WÖRZ, S. & KOTCHOUBEY, B. Sustained reduction of seizures in patients with intractable epilepsy after self-regulation training of slow cortical potentials – 10 years after. Front. Hum. Neuroscience, 08 August, 2014.
- WYRWICKA, W. & STERMAN, M. B. Instrumental conditioning of sensorimotor cortex EEG spindles in the waking cat. Physiology & Behavior 3, 703–707; 1968.